terça-feira, 2 de outubro de 2007

15 dias depois...


Salve, amigos.

Para os pés, a chuva que pegamos na chegada à Campos do Jordão foi devastadora. O cansaço acumulado pelos dias seguidos de andança também pesava.


Partimos na manhã de sábado para 42km até a pousada no centro de Pindamonhangaba. Deixávamos 30 para o "ataque final" à Basílica. Não conseguimos. O fardo dos quase 400km que mastigaram nossos pés e corpos, se fez sentir. Fomos obrigados a interromper a caminhada quando chegamos à Pousada do Amor Divino, um convento que atende a peregrinos e romeiros, que fica no km 40.


Há uma diferença entre eles: o peregrino viaja em pequenos grupos, com mochila e anda por trilhas; o romeiro viaja em grandes grupos, pelas estradas, com um veículo de apoio que carrega seus pertences.


"Manhã fria de um domingo de primavera. Tempo nublado e uma fina e intermitente garoa anunciava que seria um ótimo dia para caminhar. O descanso foi satisfatório. Os 40km restantes representariam a maior distância percorrida em um só dia, desde o começo da jornada.

Partimos ao nascer do sol. O intuito era de assistir a missa às 16h na basílica nova. Evitaríamos assim o grande fluxo de pessoas, comum aos domingos. Uma excitação tomou conta do nosso espírito. Seria o fim de uma grande jornada. Os passos rápidos, bem ritmados. O terreno plano, com raros aclives ou declives. Decidi fazer jejum, numa tentativa de tornar mais solene estas últimas horas (talvez não passasse de 10), que antecederiam a comunhão.

Caminhar nunca é confortável. Conforto é uma panela de pipoca (com seus adendos: cobertor, filme, companhia, vinho, etc). A monotonia da paisagem contrastava com o entusiasmo que nos movia. As placas de kilometragem, preguiçosas, seguiam uma lenta contagem regressiva. Em silêncio percorremos boa parte do caminho. Rezávamos. O trecho parecia não ter fim. Um nó na garganta pela emoção da missão prestes a ser cumprida e as lágrimas que teimavam em brotar, ocasionalmente.

A avenida de duas mãos que dá acesso à basílica serpenteia por entre colinas, tentando adiar a primeira visão do monumento descomunal. A torre com o relógio se mostra por cima das edificações marginais. A emoção aumenta. A agitação dos católicos e ambulantes parece ter diminuído. Há espaços entre os ônibus de romeiros, onde antes deveria estar lotado. Automóveis que, em grande número, deixaram os estacionamentos, passam velozes. Charretes puxadas por cavalos dão um tom bucólico, além de serem responsáveis pelo forte cheiro de esterco da avenida.

15h30 - Eis que, após mais uma curva à direita, se descortina o santuário em todo o seu esplendor. Como uma assombração gigantesca, reduzindo, em perspectiva, as outras edificações em seu entorno, ergue-se majestosa a basílica. O choro é mais forte que as tentativas de evitá-lo. Chegamos enfim! 15 dias depois de uma animada partida, realizamos a loucura, como é a avaliação da maioria. Magros, exaustos, combalidos e famintos, enfim estávamos a algumas centenas de metros de concluir o Caminho da Fé.

Indiferentes às dores, pisamos os degraus de uma das entradas laterais da basílica no exato momento que os sinos tocavam, anunciando que se iniciaria celebração das 16h"


Queridos leitores,

Preciso me desculpar pelo atraso desta postagem. Enfim o final da "mini-série".

Sem condições de postar algo de Aparecida, parti para São Paulo, depois de assistir à missa e encerrar o jejum, devorando um suculento cheese-salada. Após descansar na capital por uma noite, retornei a Curitiba. Lamentavelmente o chip da máquina digital travou e não consegui recuperar as fotos da basílica (e não sei se ainda conseguirei).

Meu companheiro Marcelo partiu para Tombos - MG onde iniciou nesta manhã de terça-feira, 02 de outubro, o Caminho da Luz.

Tentei evitar que esse blog tornasse de auto-ajuda, porém acho que não obtive êxito. Impossível evitar a comparação do caminho com a própria vida. Começamos cheios de entusiasmo e planos, porém os dissabores diários, nos fazem esquecer que já estamos vivendo e adiamos nossos sonhos para a aposentadoria. Acho errado pensarmos assim. Mais importante do que chegar, é o caminho.

Parodiando Neil Armstrong: Um grande feito para mim, mas irrelevante para a humanidade.

Agradeço a Deus pela Sua companhia. Por ter me mostrado o caminho. Por ter me dado saúde, força e determinação para não desistir. Por ter mantido as nuvens nos céus, nos últimos e mais longos kilometros.

Amanhã - O caminho - dados técnicos (não perca)

Abração a todos, obrigado pela audiência!

2 comentários:

Unknown disse...

Éisssoaaee Zézolhes , infelizmente eu apreciei a mini-série de uma vez só , pois como vc sabe estava de férias longe de computador e celular ,rsss . Posso lhe dizer francamente q vc tem um dom para narrativas , podendo realmente contar um pouco de sua nada monótona vida em um livro, eu digo pouco , pois se for contar tudo teríamos um livro do porte da Bíblia !!! hehehe
Parabéns por mais uma grande realização , e espero q outras mais venham a engrandecer essa sua vida repleta de aventuras . Um grande abraço de seu amigo , q na medida do possível o acompanha em algumas dessas façanhas ( Meia maratona) hehehe , adiós muchacho!!

ANNA BEATRIZ SILVEIRA disse...

Oi Aimar!!!
Parabéns.
Espero que entendas que tu fostes uma daquelas pessoas que deixaram marcas no meu coração e que fizeram a diferença em minha vida. Alguém de quem vou sempre lembrar. Obrigado por existires, por ter cruzado o meu caminho e ajudado - me a ser melhor.

Fim.

Saudade.
Beijo.