terça-feira, 2 de outubro de 2007

15 dias depois...


Salve, amigos.

Para os pés, a chuva que pegamos na chegada à Campos do Jordão foi devastadora. O cansaço acumulado pelos dias seguidos de andança também pesava.


Partimos na manhã de sábado para 42km até a pousada no centro de Pindamonhangaba. Deixávamos 30 para o "ataque final" à Basílica. Não conseguimos. O fardo dos quase 400km que mastigaram nossos pés e corpos, se fez sentir. Fomos obrigados a interromper a caminhada quando chegamos à Pousada do Amor Divino, um convento que atende a peregrinos e romeiros, que fica no km 40.


Há uma diferença entre eles: o peregrino viaja em pequenos grupos, com mochila e anda por trilhas; o romeiro viaja em grandes grupos, pelas estradas, com um veículo de apoio que carrega seus pertences.


"Manhã fria de um domingo de primavera. Tempo nublado e uma fina e intermitente garoa anunciava que seria um ótimo dia para caminhar. O descanso foi satisfatório. Os 40km restantes representariam a maior distância percorrida em um só dia, desde o começo da jornada.

Partimos ao nascer do sol. O intuito era de assistir a missa às 16h na basílica nova. Evitaríamos assim o grande fluxo de pessoas, comum aos domingos. Uma excitação tomou conta do nosso espírito. Seria o fim de uma grande jornada. Os passos rápidos, bem ritmados. O terreno plano, com raros aclives ou declives. Decidi fazer jejum, numa tentativa de tornar mais solene estas últimas horas (talvez não passasse de 10), que antecederiam a comunhão.

Caminhar nunca é confortável. Conforto é uma panela de pipoca (com seus adendos: cobertor, filme, companhia, vinho, etc). A monotonia da paisagem contrastava com o entusiasmo que nos movia. As placas de kilometragem, preguiçosas, seguiam uma lenta contagem regressiva. Em silêncio percorremos boa parte do caminho. Rezávamos. O trecho parecia não ter fim. Um nó na garganta pela emoção da missão prestes a ser cumprida e as lágrimas que teimavam em brotar, ocasionalmente.

A avenida de duas mãos que dá acesso à basílica serpenteia por entre colinas, tentando adiar a primeira visão do monumento descomunal. A torre com o relógio se mostra por cima das edificações marginais. A emoção aumenta. A agitação dos católicos e ambulantes parece ter diminuído. Há espaços entre os ônibus de romeiros, onde antes deveria estar lotado. Automóveis que, em grande número, deixaram os estacionamentos, passam velozes. Charretes puxadas por cavalos dão um tom bucólico, além de serem responsáveis pelo forte cheiro de esterco da avenida.

15h30 - Eis que, após mais uma curva à direita, se descortina o santuário em todo o seu esplendor. Como uma assombração gigantesca, reduzindo, em perspectiva, as outras edificações em seu entorno, ergue-se majestosa a basílica. O choro é mais forte que as tentativas de evitá-lo. Chegamos enfim! 15 dias depois de uma animada partida, realizamos a loucura, como é a avaliação da maioria. Magros, exaustos, combalidos e famintos, enfim estávamos a algumas centenas de metros de concluir o Caminho da Fé.

Indiferentes às dores, pisamos os degraus de uma das entradas laterais da basílica no exato momento que os sinos tocavam, anunciando que se iniciaria celebração das 16h"


Queridos leitores,

Preciso me desculpar pelo atraso desta postagem. Enfim o final da "mini-série".

Sem condições de postar algo de Aparecida, parti para São Paulo, depois de assistir à missa e encerrar o jejum, devorando um suculento cheese-salada. Após descansar na capital por uma noite, retornei a Curitiba. Lamentavelmente o chip da máquina digital travou e não consegui recuperar as fotos da basílica (e não sei se ainda conseguirei).

Meu companheiro Marcelo partiu para Tombos - MG onde iniciou nesta manhã de terça-feira, 02 de outubro, o Caminho da Luz.

Tentei evitar que esse blog tornasse de auto-ajuda, porém acho que não obtive êxito. Impossível evitar a comparação do caminho com a própria vida. Começamos cheios de entusiasmo e planos, porém os dissabores diários, nos fazem esquecer que já estamos vivendo e adiamos nossos sonhos para a aposentadoria. Acho errado pensarmos assim. Mais importante do que chegar, é o caminho.

Parodiando Neil Armstrong: Um grande feito para mim, mas irrelevante para a humanidade.

Agradeço a Deus pela Sua companhia. Por ter me mostrado o caminho. Por ter me dado saúde, força e determinação para não desistir. Por ter mantido as nuvens nos céus, nos últimos e mais longos kilometros.

Amanhã - O caminho - dados técnicos (não perca)

Abração a todos, obrigado pela audiência!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O fim está próximo...


Cyber-andarilhos, boa noite!
O amanhecer no Distrito de Luminosa nos lembrava que seria mais um dia de montanha. Último café-da-manhã em Minas foi reforçado. Plunct, plact, zum...
Carimbos e mais carimbos em nossas credenciais e partimos para Campos do Jordão, a charmosa cidade de serra de SP.
Estamos no penúltimo informativo antes de chegarmos ao nosso destino. Se faz necessário uma menção honrosa à Telemig Celular e à Fundação Banco do Brasil, que patrocinaram as inúmeras placas de sinalização do Caminho da Fé, incluindo as utilíssimas placas de kilometragem, nos informando a cada 2km, quantos ainda restavam. Confesso, mais úteis que o próprio GPS.
Passamos hoje próximo à Pedra do Baú, ponto turístico de destaque, mas que não pode ser visitado pois o desvio seria de 3 horas e certamente prejudicaria o cronograma.
Copiosa chuva nos recebeu ao entrarmos no perímetro de Campos do Jordão, evitando que nossas botas chegassem secas ao Retiro dos Peregrinos. Mais uma menção honrosa é necessária aqui: esses abnegados ex-peregrinos que com intenso calor humano nos acolheram em suas ótimas instalações.
O cajado.
Ao longo da peregrinação, fomos descobrindo outras utilidades para o cajado, bem como alguns apelidos:
"redomesticador de animais", "apanhador de frutas"
"protetor de panturrilhas" e o melhor deles "dá-licenceitor".
Por hoje é só amigos
Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?


quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Up grade

Peregrinos virtuais, boa noite.
Serei breve pois estou verificando o estado de minha paciência, após 12 dias de caminhada, usando a internet mais lenta, desde Tambaú - SP.
Um susto hoje. Duas horas antes de completarmos uma semana de Minas Gerais (às 10h20), saímos do Estado. Uma lástima. Porém, antes que eu pudesse replicar Odorico Paraguaçu: " É com a alma lavada e enxaguada na deceptude... ", já estávamos de volta. Passamos por uma localidade chamada Cantagalo, que pertence a São Paulo, mas alguns km depois reingressamos pelo município de Brazopolis. Amanhã, após os 38km que estão programados, sairemos definitivamente de Minas e estaremos em Campos do Jordão, um glamour a mais à nossa aventura.
Tenho evitado transformar este blog em monótonos relatos (como temos visto nos vários livros de outros peregrinos), de como foram suas viagens. Horários, distâncias, pessoas, pontos turísticos, etc., penso que isso aqui, não terá muito ibope.
Hoje fizemos um "upgrade" no caminho. Algo que está fora do roteiro. Tentados por uma pequena placa, displicentemente colocada no mourão de uma porteira que dizia: CRUZEIRO - 1 km. Esquecemos as recomendações de "nunca sair do caminho" e nosso espírito aventureiro e montanhista falou mais alto. Apesar de o tempo estar exíguo, embarcamos nessa desconhecida trilha.

Começamos a subir os 350m de desnível que verificamos depois, com o auxílio do GPS. Apesar de a placa dizer 1km, verificamos se tratar de uma distância pelo menos 20% maior. Essa pequena aventura vai tornar mais árdua o trecho de amanhã. (38km e mudança de cota de 1000m!).
Minutos após a decisão de irmos ao cruzeiro, vislumbramos a sua localização (foto). 1599m acima do nível do mar.
Desde o momento que passamos pela porteira até o momento que retornamos, duas horas se passaram (1h15 subindo, 10min lá e 35min descendo), porém a visão lá de cima é impagável.
Sugiro a quem estiver pensando em fazer o Caminho da Fé, partir mais cedo de Paraisópolis e conhecer essa maravilha.
Partimos agora para 3 dias de longas distâncias: 38, 42 e 30km. Muitíssimo obrigado pela torcida, moçada. Temos sentido as vibrações positivas daqui!
"Se meus joelhos não doessem mais..."



quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Fauna


Olá companheiros blogueiros!

Seguindo à risca o lema de uma propaganda da TV: "NÃO DEIXE SUA VIDA ACONTECER SEM VOCÊ", continuamos no caminho.

Tenho me emocionado com as mensagens e comentários de vocês, amigos leitores e companheiros da aventura.

Eis uma das inúmeras fotos dos tucanos. Esse aí parecia que estava pedindo para ser fotografado, tal o escândalo que fez ao pousar no toco.

Estou me sentindo mais inteligente! Passei incólume, até aqui, por dezenas de "mata-burros" (se fossem "mata-loucos", não sei se teria a mesma sorte)

Preciso falar mais da fauna do caminho. Retirando os pássaros que continuam, em grande quantidade, alegrando nossas passagens, outros animais se fizeram presentes.

Ouvimos gritos de macacos por duas vezes e vimos suas pegadas (imagino serem de primatas, pois têm 5 dedos).

Também pegadas de capivaras. Gambás e cobras (mortos por atropelamento), sapos, lagartos e calangos deram um toque selvagem à jornada.

Nossa "mini-série" ainda é um embrião, comparada às emoções da novela das 8. Gente morrendo envenenada, pessoas enfartando, filhos que já vão nascer órfãos e alguém sangrando até a morte são um páreo duríssimo para as minhas singelas aventuras. Única vantagem é que o gran-finale, será no domingo, quando todos terão tempo de assistir.

Entramos finalmente no último terço da viagem. Resta somente algo equivalente a ir de Foz a Cascavel. Amanhã o programa é enfrentar 28km com o relevo oscilando 250m para então enfrentarmos a temida Serra da Luminosa, que antecede Campos do Jordão, com desnível de 800m. O tempo hoje permaneceu como ontem, frio e nublado, o que favoreceu chegarmos cedo a Paraisópolis.

Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz.
Guardando as recordações das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei ...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Um dia de frio

Olá, meus queridos leitores.

Saibam que durante o dia, além de rezar o terço, ocupo o tempo a mentalizar as matérias mais importantes a serem postadas. Efetivamente muitas, interessantes, acabam ficando fora deste modesto blog, porém facilmente preencheriam um livro (ilustrado). Ainda mais com a ajuda de alguns de vocês.

Ontem a lan house estava fechando e não houve tempo para postar a foto das botas. Ei-la, então. Por falar em árvores, esta da foto, além de observar a deslumbrante paisagem, presenciou a passagem dos 4158 peregrinos anteriores a mim. Os números são incertos, visto que alguns desistem e outros fazem o caminho em etapas, porém os dados foram obtidos no livro de registro do Bar da Zetti, em Crisólia, a 2km deste ponto.

Deixamos Estiva, a cidade dos morangos. Passamos horas e horas ao lado de plantações desta fruta sem ninguém nos ter oferecido uma sequer (sou andarilho, não mendigo!).
O trecho de hoje era o menor até então, porém, atravessando a Serra do Caçador. A sabedoria enxadrística me ensinou a nunca menosprezar o adversário. Mesmo sabendo que só seriam 20km, levantamos cedo, como de costume e partimos pouco depois do nascer do sol.
Após sermos bombardeados por paisagens rurais, durante dias a fio, finalmente o reencontro às imagens toscas a que estamos mais acostumados (foto). Às 8h20, com a altitude 904m S 22º 27' 48,4" W 046º01'07,4" passamos pela Rodovia Fernão Dias (elo de ligação entre São Paulo e Belo Horizonte).

Espessos cirrus stratus reduziram não só a luminosidade do dia, mas, auxiliados pela altitude entre 900 e 1200m, proporcionaram o dia mais frio da jornada. A temperatura variando entre 16 e 20ºC, e o vento de 12 nós (chegando a 15 na rajada) nos obrigou a colocar os casacos (foto) completando portanto a lista de uso dos itens trazidos.

Pela primeira vez cheguei a tempo de almoçar. Consolação, município de 1100 hab, tem lan house, mas por motivos técnicos não foi possível postar de lá a presente mensagem.
Usamos o dia para um intenso descanso.
A etapa de amanhã é de 22 ou 26km, dependendo do ânimo que estivermos na primeira parada.

Pelos prados e campinas verdejantes eu vou...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sob a luz do luar

Boa noite, queridos leitores!

Desculpem a longa ausência. Me disseram que o blog está mais emocionante que a novela das 8, mas modestamente acho difícil rivalizar com o "Olavo sangrando até a morte". No máximo uma mini-série daquelas de duas semanas.
Também recebi incentivos para escrever um livro (a foto seria sugestão para a capa, inclusive).

Vamos tentar entreter meus amáveis e surpreendentes leitores.

Com intuito de chegarmos a Aparecida no domingo dia 30 (antecipando as previsões anteriores), nos lançamos em uma proposta ousada: 67km em dois dias. Realizamos o feito a duras penas. No sábado, chegamos no limiar do dia, porém no domingo, a última hora da caminhada foi sob a luz do luar. Interessante, não fosse a exaustão provocada pelos insistentes aclives e declives. Sobe-se tanto morro, que se tem a nítida impressão de estar indo para o céu, vivo, com mochila e cajado.

As frondosas árvores que aplacam o calor durante os dias, são as mesmas que mergulham o caminho nas trevas, durante a noite.

Por falar nisso, impossível evitar fotografá-las. Pinheiros, ipês, cedros, jatobás (ou jataís), jequitibás (foto), paineiras, angicos, mangueiras, guapuruvus, viçosos e centenários, imponentes, compondo bucólicas paisagens e testemunhando a passagem (quase imperceptível) de peregrinos.

Durante este hiato de notícias, houve dois fatos jubilosos. O primeiro deles foi a superação da marca dos 50%. Às 15h20 do dia 23/09/2007, no município de Tócos do Mogi - MG, entramos na derradeira metade do trajeto.

Porém o motivo de maior regozijo foi que minhas botas, companheiras de tantas jornadas, comemoraram seus primeiros 500km. Diversos tipos de piso passaram por baixo de suas solas. Pedras, lama, pó, asfalto, raízes e pedras soltas, sucumbiram à sua passagem.

O caminho aplaca as vaidades, por mais bem equipado que você esteja. Não há médicos, advogados, engenheiros, pedreiros, empresários. Todos são iguais perante o caminho: somos todos peregrinos.

"Quando o sol bater na janela do seu quarto. Lembra e vê que o caminho é um só."

sábado, 22 de setembro de 2007

Bingo!

Bingo! Bingo! Completei a primeira linha do passaporte do peregrino!
Esta garotinha linda que está segurando o passaporte é a Ieda, neta da Dna Natalina.
Como vocês podem ver, a jornada está só começando.
Passo a passo, já foram mastigados por nossas botas 180km. Fizemos ontem 22km até a Barra, hoje caminhamos 22km e a intenção é dormir em Inconfidentes, numa pousada a 15km de onde estou. Meu companheiro de andanças, Marcelo, já partiu na frente pois precisou reduzir muito o ritmo em função dos danos nos pés.
Estava caminhando ontem e imaginando qual seria o título desta postagem. O primeiro que me ocorreu (inspirado pela Marina que comentou que estou rivalizando com a novela das oito), foi ROTA DO PÓ (não aquele da Colômbia), para criar uma espectativa. A estrada que liga Andradas a Serra dos Limas (onde "bingamos"), com a seca que estamos vivendo, está extremamente empoeirada. Muito movimentada também. A curiosidade é a grande quantidade de fuscas que circulam por ela. A serra, inclusive, tem o apelido de "serra dos fuscas". Todas as cores típicas de fuscas (as tradicionais laranja, azul-"calcinha", verde, vermelho e azul; e "modernas" bege, prata e cinza) puderam ser vistas. Agora entendo porque o Itamar Franco insistiu tanto em reeditar este veículo. Quando se reelegeu governador de Minas em 98, em Andradas, deve ter tido a unanimidade dos votos.
Os motoristas idosos que pilotavam estas máquinas pareciam tê-las tirado da concessionária, quando jovens. Gentis, acenavam, porém se esqueciam de reduzir a velocidade, dando a impressão que, simultâneo ao gesto com a mão, diziam: - "Ó o pó!".
Percebemos que seria interessante termos trazido aquelas máscaras que os asiáticos usavam na época da SARS, para evitarem o contágio pelo H5N1. Se segura vírus, quem dirá poeira...
Para aplacar o calor intenso, fomos obrigados a dar uma entradinha no riozinho da foto. Minas, nascentes, córregos, regatos, riachos e cachoeiras têm feito parte da paisagem neste segundo quarto de peregrinação.
A dificuldade do caminho só tem sido superada pelas magníficas paisagens que se descortinam a cada tope de colina vencida. Pássaros de todas as cores estão por toda parte. Canários, sabiás, joão-de-barros, tucanos, siriemas, maritacas, tesourinhas, jacus (e uma longa lista de etc pois não sei seus nomes), alguns tão "confiados" (como dizem os locais) que nos dá a impressão que é possível tocá-los.
Todos sabem que não sou muito simpático às tatuagens, porém, fazer este caminho está sendo uma experiência tão fascinante que acabei cedendo à tentação e acabei, eu mesmo, fazendo uma tatoo. Calma, calma! Não foi em mim, foi no meu cajado. Em Águas da Prata, me emprestaram um pirógrafo e gastei toda minha criatividade na decoração (foto)
O sofrimento tem sido auxiliado por algumas bolhas estratégicamente colocadas nos pés. Até o momento a tática que tenho usado é a de ignorá-las. Tem dado certo, vamos ver até quando...
Preciso pedir licença agora, para voltar a falar de Andradas. Cidade acolhedora, comida saborosa e farta que merece ser destacada pela sua gente. Desde o momento que se entra na cidade uma atmosfera diferente nos envolve. O menino, de tenra idade, que nos acena: -"Caminho da Fé, boa viagem, Deus acompanhe!", ou a gentileza e paciência dos garotos da lan house da praça da igreja para nos auxiliar a postar as fotos "frescas" que ainda estavam na máquina. Tudo parece conspirar a nosso favor.
Os inúmeros acenos e cumprimentos de "boa viagem" e "Deus o acompanhe" nos dá a certeza que, realmente Ele está conosco, nessa linda jornada. Para me despedir deixo as palavras de um senhor, na casa dos 70 anos, que disse já ter feito o caminho 20 vezes: "Quando você vai para Aparecida, você só vai até a metade, depois, Ela é que te vem buscar!"
Até qualquer hora.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Quinto dia

Às 12h20 do dia 20 de setembro de 2007, na altitude de 1257m e coordenadas S 22º00'06.3" e W 046º 37'31.5" finalmente adentramos na nossa querida Minas Gerais. Esta pequena ponte faz a ligação entre os dois estados.
Entramos pela centenária Andradas, terra do vinho e das montanhas verdejantes, como diz as inscrições de fronte à Prefeitura. Nos hospedamos no Andradas Palace Hotel (4 estrelas). Um exagero, para quem está peregrinando, mas nem penso em reclamar...
Descobrimos que a "greve" das nuvens era um movimento só do estado de SP. Assim que subimos o primeiro morro mineiro, em direção à uma área de reflorestamento de eucalipto, um grande "cb" ajudou o Marcelo a estrear sua capa de chuva nova. A precipitação de aproximadamente quatro minutos quase conseguiu a molhar a capa toda.
Graças à arrogância e indiferença do proprietário da Pousada do Gavião, estabelecemos um novo recorde diário de distância: 34km. Preferimos descer os 10km que nos separava da pitoresca e acolhedora Andradas, a ficar naquele estabelecimento.
Antes de nos despedirmos do estado de SP, tivemos a oportunidade de um banho de rio, num ponto turistico chamado ponte de pedra, perto do Pico do Gavião. A água gelada, além de tirar o pó de trás das orelhas, deu uma super refrescada.
O Pico do Gavião é um dos melhores pontos de vôo livre do Brasil, tanto para asa como para paraglider. Acabamos desistindo de conhecê-lo pessoalmente pois distava aprox. 3km da trilha do Caminho da Fé e a temperatura ultrapassava a marca dos 30ºC.
Cumprimos 137km. Restam 288km agora. Graças a essa "esticada" de hoje, existe uma boa possibilidade de adiantarmos um dia no total. Ainda é cedo para afirmar.
A hipótese de estar sendo lido, tem sido um fator motivador, por isso agradeço muito a vocês a presença.
Abração a todos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Depois de 100km...


Salve, carissimos leitores!

Eis foto da nossa partida, em Tambaú - SP.

Dois dias de "montanha russa", nos trouxeram até Águas da Prata. Completamos exatos 105km hoje. To inteiro até aqui: inteiro moído! (brincadeirinha...)
O próximo trecho, além de deserto, tem 24km de subida (desnível de 500m). A Pousada do Gavião (só podia ter esse nome) fica no município de Andradas, e pretendo postar alguma coisa de lá, amanhã. Hoje chegamos meio tarde em função do forte calor e resolvemos descansar nessa agradável cidade. Aproveitei para atualizar o blog.

A greve das nuvens continua. Nenhuma apareceu até o momento. Parece que o "comando do movimento" vai se reunir hoje a noite, mas a pesquisa do datafolha diz que 67% da categoria vai votar pela continuidade do movimento. Resumo: o sol nos aguarda para mais um longo dia amanhã.

Esqueci de comentar na postagem anterior que o segundo trecho foi pesadíssimo. 32km sem água nem descanso. Não fosse a experiencia do companheiro Marcelo, que fez com que levássemos 1 litro de água a mais, já teríamos padecido logo no começo.
Bom moçada, é isso.
Até amanhã, se Deus quiser.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Keep walking...

Olá, pessoal!
Buemba, buemba! Resolvi entrar pro seminário!
É isso mesmo. Depois de muito refletir, durante o caminho, achei que era chegada a hora de enfrentar essa questão. Essa vida de solteiro que tenho tido nos últimos anos só tem me afastado do verdadeiro caminho da salvação. Vida desregrada, trocando o dia pela noite, álcool, mulheres, jogatina, etc. Por isso achei sábia minha decisão.
Brincadeirinha... Hoje cedo, quando o efeito do sol nos miolos passou, saí do seminário, com destino à próxima cidade.
Desculpem por não ter postado nada ontem, é que o local onde ficamos era distante da cidade e esta, meio meio precária (assim como eu, quando cheguei). Então aqui vai o relatório dois em um:
Cumpridos (os compridos) 60km do caminho. Faltam apenas 365km agora! (Apesar de o GPS dizer que, em linha reta, são apenas 207km...).
O trecho de ontem, que somou 28km, além de belas paisagens, nos proporcionou saudável alimentação com os laranjais à beira do caminho. Fizemos fotos e filmes "mpeg" de vários pássaros, responsáveis pela trilha sonora. O ponto alto deste trecho foi o banho de piscina na pousada Campo Alegre. Show de bola o lugar. Sugiro pra quem for, enfrentar as 4 horas que separam esta pousada de Tambaú e jantar, pernoitar e tomar café lá. Muito melhor e mais barato.
Os hotéis que pernoitamos, até aqui foram bem sofríveis, sendo que o de Tambaú foi o mais "ESQUECÍVEL" deles, ruim em todos os aspectos (atendimento, silêncio, pernilongos, serviço e café da manhã fraquíssimo). O de Casa Branca (o tal seminário) fica dentro do páteo da igreja e tem boas instalações. Porém, a comida "restô-dontê", somado à má-vontade da cozinheira, não vai deixar saudade.
O tempo está muito bom. Seco e iluminado. A temperatura não tem chegado aos 30ºC. O sol não foi incomodado por nenhuma nuvem até aqui, mantendo sempre aquecida a água dos nossos cantis. E nos obrigando a ir diminuindo o peso dos tubos de protetor solar.
Minha bota tem se comportado de maneira esplêndida. Meus pés nem tanto...
Não me envergonho de dizer que temos rezado o terço todos os dias, às 9h, enquanto caminhamos. Quem for católico e quiser se juntar a nós, em pensamento, será um prazer.
Não percam os próximos episódios...
Abraço a todos.

sábado, 15 de setembro de 2007

Bem amigos da rede...

Elevação 668m

S 21º42'31.2" W 047º16'07.9" Estamos em Tambaú!

O tempo está bom. Sol, calor. 30ºC.

O companheiro Marcelo já havia chegado, horas antes.

A dieta da mochila foi dramática, nas últimas horas, em São Paulo. Foram cortados o aparelho de barba, luva de trilha, caixa de cotonete e joelheira. Outra coisa, por exemplo: influenciado pela propaganda subliminar do Banco do Brasil: "Decida pelo 3" acabei tomando uma atitude drástica (Não! Não é pelo terceiro mandado do Lula): decidi por cortar o cabelo "máquina 3! Fiquei mais leve. Além do que o volume de shampoo caiu pela metade 150g a menos!

Amanhã pesagem "equipado". E estamos prontos para darmos nossos primeiros passos em direção à Aparecida. Próxima parada é Casablanca, a 28km daqui (porém vamos aferir com o GPS, lógico).

Muito obrigado pelo apoio, moçada.

Até amanhã, se Deus quiser.

Abração

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Parafernália Eletrônica


Bom dia, amigos. (direto de São Paulo - SP )
Com a energia renovada após espetacular feriadão no Petar (cavernas), estou a R$ 43,88 de distância de Tambaú, nosso ponto de partida.
Fiz ontem uma "prévia" da mochila e notei que, como eu, ela precisa perder peso. A "dieta" (no caso da mochila) já começou em Curitiba mesmo. Walkman, mp3 e celular dançaram (até mesmo pelo caráter meditativo/contemplativo do caminho). Da primeira degola salvou-se a pequena máquina fotográfica digital.
Porém, apesar do peso que representa, não só o seu próprio (que não é pouco), mas das pilhas de reserva e do carregador, preciso me render a este discreto companheiro: o GPS (foto).
Amarelo como as setas indicativas, este pequeno acessório vai ajudar (assim espero) a nos mantermos no caminho.

O segredo que só conto para vocês, amigos leitores, é que já armazenei em sua memória as coordenadas de Aparecida do Norte, obtidas no Google Earth.
Até a próxima.

Companhia

Olá, amigos.

Quando falo que estou partindo para a peregrinação, muitos me perguntam: "- Com quem vc vai?"
A resposta está sempre na ponta da língua: "- Com Deus, ora essa!", que tem sido meu único acompanhante.
No entanto, um dos companheiros do Grupo Pegadas, que inclusive já fez este Caminho, se animou em fazê-lo novamente.
Marcelo Aragão (foto) é técnico de segurança para ganhar a vida, e andarilho, para viver a vida.
Imaginem que ele está partindo hoje para Tombos - MG para, antes do Caminho da Fé, fazer o Caminho da Luz (195km)! Boa sorte, peregrino. Nos vemos em Tambaú, dia 16 (ou 17).

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Malas quase prontas

Depois de muitas dúvidas entre deixar os afazeres, as responsabilidades e os projetos diários, e mergulhar nesta jornada de 15 dias, finalmente sinto-me confortável em decidir em favor do "caminho".
Primeira coisa que vêm à cabeça é: "- O que levar?" ou "O que posso precisar?"
Mais do que uma opção, a mochila deverá ser o mais espartana possível. Cada item: pilha, cortador de unha, aparelho de barbear, aparentemente indispensáveis, representam uma sobre-carga. Portanto a segunda pergunta precisa de um "ajuste": "O que vou mesmo precisar?"
Baseado na experiencia de 2006 do Caminho da Luz, os ítens da lista, aprovados como estritamente necessários, 50% vão ser insensivelmente cortados. Carregar kgs extras por 425km realmente não fazem parte dos planos nem dos meus joelhos nem da minha coluna.
A data foi fixada. Partida domingo, de Tambaú, dia 16 de setembro de 2007, com destino à Aparecida do Norte. Porém o "caminho" já está sendo percorrido...