quinta-feira, 15 de maio de 2008

Fim da jornada

Caríssimos leitores, que nos acompanharam durante a aventura, e aos que vieram a posteriori nos honrar com sua leitura, Os deixo agora com a mais espetacular visão desde que iniciamos o Caminho: A Catedral-Basílica de Nossa Senhora Aparecida.
Mais conhecida por "Basílica Nova", este imenso santuário começou a ser construída em 11 de novembro de 1955, e foi solenemente sagrada no dia 4 de julho de 1980, pelo Papa João Paulo II.
Quem quiser maiores informações é só entrar neste link (www.revistaturismo.com.br/passeios/aparecida.htm).
Não posso deixar de lado minha paixão por números, portanto aqui vão alguns que julgo relevantes:
Peregrinos: 2
Distância Percorrida: 427km (nova rota)
Duração: 15 dias
Tempo: Seco e quente na grande maioria dos dias. Chuva no final do ante-penúltimo dia. Nublado e frio nos dois últimos.
Peso: Perdi 4kg. O companheiro Marcelo, 6kg.

Agradeço muito pela "audiência" e comentários. Estou iniciando hoje um novo blog: http://oaventureiroaimar.blogspot.com onde passarei a postar semanalmente alguma coisa interessante. Para a inauguração desse novo blog, pretendo relatar a próxima peregrinação NOS PASSOS DE ANCHIETA, que inicia dia 22/05/08. Espero poder contar com a sua companhia.
Abração

Aimar

terça-feira, 2 de outubro de 2007

15 dias depois...


Salve, amigos.

Para os pés, a chuva que pegamos na chegada à Campos do Jordão foi devastadora. O cansaço acumulado pelos dias seguidos de andança também pesava.


Partimos na manhã de sábado para 42km até a pousada no centro de Pindamonhangaba. Deixávamos 30 para o "ataque final" à Basílica. Não conseguimos. O fardo dos quase 400km que mastigaram nossos pés e corpos, se fez sentir. Fomos obrigados a interromper a caminhada quando chegamos à Pousada do Amor Divino, um convento que atende a peregrinos e romeiros, que fica no km 40.


Há uma diferença entre eles: o peregrino viaja em pequenos grupos, com mochila e anda por trilhas; o romeiro viaja em grandes grupos, pelas estradas, com um veículo de apoio que carrega seus pertences.


"Manhã fria de um domingo de primavera. Tempo nublado e uma fina e intermitente garoa anunciava que seria um ótimo dia para caminhar. O descanso foi satisfatório. Os 40km restantes representariam a maior distância percorrida em um só dia, desde o começo da jornada.

Partimos ao nascer do sol. O intuito era de assistir a missa às 16h na basílica nova. Evitaríamos assim o grande fluxo de pessoas, comum aos domingos. Uma excitação tomou conta do nosso espírito. Seria o fim de uma grande jornada. Os passos rápidos, bem ritmados. O terreno plano, com raros aclives ou declives. Decidi fazer jejum, numa tentativa de tornar mais solene estas últimas horas (talvez não passasse de 10), que antecederiam a comunhão.

Caminhar nunca é confortável. Conforto é uma panela de pipoca (com seus adendos: cobertor, filme, companhia, vinho, etc). A monotonia da paisagem contrastava com o entusiasmo que nos movia. As placas de kilometragem, preguiçosas, seguiam uma lenta contagem regressiva. Em silêncio percorremos boa parte do caminho. Rezávamos. O trecho parecia não ter fim. Um nó na garganta pela emoção da missão prestes a ser cumprida e as lágrimas que teimavam em brotar, ocasionalmente.

A avenida de duas mãos que dá acesso à basílica serpenteia por entre colinas, tentando adiar a primeira visão do monumento descomunal. A torre com o relógio se mostra por cima das edificações marginais. A emoção aumenta. A agitação dos católicos e ambulantes parece ter diminuído. Há espaços entre os ônibus de romeiros, onde antes deveria estar lotado. Automóveis que, em grande número, deixaram os estacionamentos, passam velozes. Charretes puxadas por cavalos dão um tom bucólico, além de serem responsáveis pelo forte cheiro de esterco da avenida.

15h30 - Eis que, após mais uma curva à direita, se descortina o santuário em todo o seu esplendor. Como uma assombração gigantesca, reduzindo, em perspectiva, as outras edificações em seu entorno, ergue-se majestosa a basílica. O choro é mais forte que as tentativas de evitá-lo. Chegamos enfim! 15 dias depois de uma animada partida, realizamos a loucura, como é a avaliação da maioria. Magros, exaustos, combalidos e famintos, enfim estávamos a algumas centenas de metros de concluir o Caminho da Fé.

Indiferentes às dores, pisamos os degraus de uma das entradas laterais da basílica no exato momento que os sinos tocavam, anunciando que se iniciaria celebração das 16h"


Queridos leitores,

Preciso me desculpar pelo atraso desta postagem. Enfim o final da "mini-série".

Sem condições de postar algo de Aparecida, parti para São Paulo, depois de assistir à missa e encerrar o jejum, devorando um suculento cheese-salada. Após descansar na capital por uma noite, retornei a Curitiba. Lamentavelmente o chip da máquina digital travou e não consegui recuperar as fotos da basílica (e não sei se ainda conseguirei).

Meu companheiro Marcelo partiu para Tombos - MG onde iniciou nesta manhã de terça-feira, 02 de outubro, o Caminho da Luz.

Tentei evitar que esse blog tornasse de auto-ajuda, porém acho que não obtive êxito. Impossível evitar a comparação do caminho com a própria vida. Começamos cheios de entusiasmo e planos, porém os dissabores diários, nos fazem esquecer que já estamos vivendo e adiamos nossos sonhos para a aposentadoria. Acho errado pensarmos assim. Mais importante do que chegar, é o caminho.

Parodiando Neil Armstrong: Um grande feito para mim, mas irrelevante para a humanidade.

Agradeço a Deus pela Sua companhia. Por ter me mostrado o caminho. Por ter me dado saúde, força e determinação para não desistir. Por ter mantido as nuvens nos céus, nos últimos e mais longos kilometros.

Amanhã - O caminho - dados técnicos (não perca)

Abração a todos, obrigado pela audiência!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O fim está próximo...


Cyber-andarilhos, boa noite!
O amanhecer no Distrito de Luminosa nos lembrava que seria mais um dia de montanha. Último café-da-manhã em Minas foi reforçado. Plunct, plact, zum...
Carimbos e mais carimbos em nossas credenciais e partimos para Campos do Jordão, a charmosa cidade de serra de SP.
Estamos no penúltimo informativo antes de chegarmos ao nosso destino. Se faz necessário uma menção honrosa à Telemig Celular e à Fundação Banco do Brasil, que patrocinaram as inúmeras placas de sinalização do Caminho da Fé, incluindo as utilíssimas placas de kilometragem, nos informando a cada 2km, quantos ainda restavam. Confesso, mais úteis que o próprio GPS.
Passamos hoje próximo à Pedra do Baú, ponto turístico de destaque, mas que não pode ser visitado pois o desvio seria de 3 horas e certamente prejudicaria o cronograma.
Copiosa chuva nos recebeu ao entrarmos no perímetro de Campos do Jordão, evitando que nossas botas chegassem secas ao Retiro dos Peregrinos. Mais uma menção honrosa é necessária aqui: esses abnegados ex-peregrinos que com intenso calor humano nos acolheram em suas ótimas instalações.
O cajado.
Ao longo da peregrinação, fomos descobrindo outras utilidades para o cajado, bem como alguns apelidos:
"redomesticador de animais", "apanhador de frutas"
"protetor de panturrilhas" e o melhor deles "dá-licenceitor".
Por hoje é só amigos
Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?


quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Up grade

Peregrinos virtuais, boa noite.
Serei breve pois estou verificando o estado de minha paciência, após 12 dias de caminhada, usando a internet mais lenta, desde Tambaú - SP.
Um susto hoje. Duas horas antes de completarmos uma semana de Minas Gerais (às 10h20), saímos do Estado. Uma lástima. Porém, antes que eu pudesse replicar Odorico Paraguaçu: " É com a alma lavada e enxaguada na deceptude... ", já estávamos de volta. Passamos por uma localidade chamada Cantagalo, que pertence a São Paulo, mas alguns km depois reingressamos pelo município de Brazopolis. Amanhã, após os 38km que estão programados, sairemos definitivamente de Minas e estaremos em Campos do Jordão, um glamour a mais à nossa aventura.
Tenho evitado transformar este blog em monótonos relatos (como temos visto nos vários livros de outros peregrinos), de como foram suas viagens. Horários, distâncias, pessoas, pontos turísticos, etc., penso que isso aqui, não terá muito ibope.
Hoje fizemos um "upgrade" no caminho. Algo que está fora do roteiro. Tentados por uma pequena placa, displicentemente colocada no mourão de uma porteira que dizia: CRUZEIRO - 1 km. Esquecemos as recomendações de "nunca sair do caminho" e nosso espírito aventureiro e montanhista falou mais alto. Apesar de o tempo estar exíguo, embarcamos nessa desconhecida trilha.

Começamos a subir os 350m de desnível que verificamos depois, com o auxílio do GPS. Apesar de a placa dizer 1km, verificamos se tratar de uma distância pelo menos 20% maior. Essa pequena aventura vai tornar mais árdua o trecho de amanhã. (38km e mudança de cota de 1000m!).
Minutos após a decisão de irmos ao cruzeiro, vislumbramos a sua localização (foto). 1599m acima do nível do mar.
Desde o momento que passamos pela porteira até o momento que retornamos, duas horas se passaram (1h15 subindo, 10min lá e 35min descendo), porém a visão lá de cima é impagável.
Sugiro a quem estiver pensando em fazer o Caminho da Fé, partir mais cedo de Paraisópolis e conhecer essa maravilha.
Partimos agora para 3 dias de longas distâncias: 38, 42 e 30km. Muitíssimo obrigado pela torcida, moçada. Temos sentido as vibrações positivas daqui!
"Se meus joelhos não doessem mais..."



quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Fauna


Olá companheiros blogueiros!

Seguindo à risca o lema de uma propaganda da TV: "NÃO DEIXE SUA VIDA ACONTECER SEM VOCÊ", continuamos no caminho.

Tenho me emocionado com as mensagens e comentários de vocês, amigos leitores e companheiros da aventura.

Eis uma das inúmeras fotos dos tucanos. Esse aí parecia que estava pedindo para ser fotografado, tal o escândalo que fez ao pousar no toco.

Estou me sentindo mais inteligente! Passei incólume, até aqui, por dezenas de "mata-burros" (se fossem "mata-loucos", não sei se teria a mesma sorte)

Preciso falar mais da fauna do caminho. Retirando os pássaros que continuam, em grande quantidade, alegrando nossas passagens, outros animais se fizeram presentes.

Ouvimos gritos de macacos por duas vezes e vimos suas pegadas (imagino serem de primatas, pois têm 5 dedos).

Também pegadas de capivaras. Gambás e cobras (mortos por atropelamento), sapos, lagartos e calangos deram um toque selvagem à jornada.

Nossa "mini-série" ainda é um embrião, comparada às emoções da novela das 8. Gente morrendo envenenada, pessoas enfartando, filhos que já vão nascer órfãos e alguém sangrando até a morte são um páreo duríssimo para as minhas singelas aventuras. Única vantagem é que o gran-finale, será no domingo, quando todos terão tempo de assistir.

Entramos finalmente no último terço da viagem. Resta somente algo equivalente a ir de Foz a Cascavel. Amanhã o programa é enfrentar 28km com o relevo oscilando 250m para então enfrentarmos a temida Serra da Luminosa, que antecede Campos do Jordão, com desnível de 800m. O tempo hoje permaneceu como ontem, frio e nublado, o que favoreceu chegarmos cedo a Paraisópolis.

Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz.
Guardando as recordações das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei ...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Um dia de frio

Olá, meus queridos leitores.

Saibam que durante o dia, além de rezar o terço, ocupo o tempo a mentalizar as matérias mais importantes a serem postadas. Efetivamente muitas, interessantes, acabam ficando fora deste modesto blog, porém facilmente preencheriam um livro (ilustrado). Ainda mais com a ajuda de alguns de vocês.

Ontem a lan house estava fechando e não houve tempo para postar a foto das botas. Ei-la, então. Por falar em árvores, esta da foto, além de observar a deslumbrante paisagem, presenciou a passagem dos 4158 peregrinos anteriores a mim. Os números são incertos, visto que alguns desistem e outros fazem o caminho em etapas, porém os dados foram obtidos no livro de registro do Bar da Zetti, em Crisólia, a 2km deste ponto.

Deixamos Estiva, a cidade dos morangos. Passamos horas e horas ao lado de plantações desta fruta sem ninguém nos ter oferecido uma sequer (sou andarilho, não mendigo!).
O trecho de hoje era o menor até então, porém, atravessando a Serra do Caçador. A sabedoria enxadrística me ensinou a nunca menosprezar o adversário. Mesmo sabendo que só seriam 20km, levantamos cedo, como de costume e partimos pouco depois do nascer do sol.
Após sermos bombardeados por paisagens rurais, durante dias a fio, finalmente o reencontro às imagens toscas a que estamos mais acostumados (foto). Às 8h20, com a altitude 904m S 22º 27' 48,4" W 046º01'07,4" passamos pela Rodovia Fernão Dias (elo de ligação entre São Paulo e Belo Horizonte).

Espessos cirrus stratus reduziram não só a luminosidade do dia, mas, auxiliados pela altitude entre 900 e 1200m, proporcionaram o dia mais frio da jornada. A temperatura variando entre 16 e 20ºC, e o vento de 12 nós (chegando a 15 na rajada) nos obrigou a colocar os casacos (foto) completando portanto a lista de uso dos itens trazidos.

Pela primeira vez cheguei a tempo de almoçar. Consolação, município de 1100 hab, tem lan house, mas por motivos técnicos não foi possível postar de lá a presente mensagem.
Usamos o dia para um intenso descanso.
A etapa de amanhã é de 22 ou 26km, dependendo do ânimo que estivermos na primeira parada.

Pelos prados e campinas verdejantes eu vou...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sob a luz do luar

Boa noite, queridos leitores!

Desculpem a longa ausência. Me disseram que o blog está mais emocionante que a novela das 8, mas modestamente acho difícil rivalizar com o "Olavo sangrando até a morte". No máximo uma mini-série daquelas de duas semanas.
Também recebi incentivos para escrever um livro (a foto seria sugestão para a capa, inclusive).

Vamos tentar entreter meus amáveis e surpreendentes leitores.

Com intuito de chegarmos a Aparecida no domingo dia 30 (antecipando as previsões anteriores), nos lançamos em uma proposta ousada: 67km em dois dias. Realizamos o feito a duras penas. No sábado, chegamos no limiar do dia, porém no domingo, a última hora da caminhada foi sob a luz do luar. Interessante, não fosse a exaustão provocada pelos insistentes aclives e declives. Sobe-se tanto morro, que se tem a nítida impressão de estar indo para o céu, vivo, com mochila e cajado.

As frondosas árvores que aplacam o calor durante os dias, são as mesmas que mergulham o caminho nas trevas, durante a noite.

Por falar nisso, impossível evitar fotografá-las. Pinheiros, ipês, cedros, jatobás (ou jataís), jequitibás (foto), paineiras, angicos, mangueiras, guapuruvus, viçosos e centenários, imponentes, compondo bucólicas paisagens e testemunhando a passagem (quase imperceptível) de peregrinos.

Durante este hiato de notícias, houve dois fatos jubilosos. O primeiro deles foi a superação da marca dos 50%. Às 15h20 do dia 23/09/2007, no município de Tócos do Mogi - MG, entramos na derradeira metade do trajeto.

Porém o motivo de maior regozijo foi que minhas botas, companheiras de tantas jornadas, comemoraram seus primeiros 500km. Diversos tipos de piso passaram por baixo de suas solas. Pedras, lama, pó, asfalto, raízes e pedras soltas, sucumbiram à sua passagem.

O caminho aplaca as vaidades, por mais bem equipado que você esteja. Não há médicos, advogados, engenheiros, pedreiros, empresários. Todos são iguais perante o caminho: somos todos peregrinos.

"Quando o sol bater na janela do seu quarto. Lembra e vê que o caminho é um só."